quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Paul and the fish










"Many years ago, I was fishing, and as I was reeling in the poor fish, I realised, 'I am killing him - all for the passing pleasure it brings me.Something inside me clicked. I realised, as I watched him fight for breath, that his life was as important to him as mine is to me."

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

sexta-feira, 9 de julho de 2010






O amor é grande e cabe nesta janela sobre o mar. O mar é grande e cabe na cama e no colchão de amar. O amor é grande e cabe no breve espaço de beijar.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Boa noite,
É com grande honra que me foi incumbida a tarefa de representar esta turma nesta noite de formatura. Assim, iniciarei este discurso agradecendo aos meus amigos, e agora, colegas de profissão, esse privilégio e imensa responsabilidade.
Depois de seis anos de faculdade, devo eu refletir sobre esse momento na perspectiva do tempo, dissecando parte de nossa história do passado ao futuro, do estudante ao, agora, médico.
Do passado, tenho claras lembranças das longas filas, do “friozinho na barriga” e da ansiedade do vestibular. Depois das fórmulas matemáticas e fatos históricos, dos tremores de extremidades e dos calafrios da expectativa, pudemos, enfim, dar brados de vitória pela tão aguardada vida acadêmica. Os vestibulandos passaram a ser acadêmicos de medicina.
No Campus do Porangabussu, iniciamos a nossa jornada com o primeiro enfrentamento: CORPOS FORMOLIZADOS. Olhando para aqueles seres inanimados, passamos a compreender que o importante na vida não bens materiais, ou sucesso, ou fama, pois, como escreveu Edgardo Rodolfo Sosa “O essencial é invisível aos olhos”. E que, quando se dá o último sopro de vida, nos resta um conjunto de células, que formam divinamente, órgãos e sistemas tão diferentes quanto harmônicos. Contudo, vão embora os sonhos, os desejos e o futuro.
Assim como respeitamos aqueles cadáveres sem identidade revelada, dissecando-os para suturar as colchas do conhecimento médico, respeitaremos as “Marias e os Joãos” que nos serão confiados. Após dissecarmos as páginas dos livros de Anatomia, Histologia, Patologia e Farmacologia, progredimos para o primeiro divisor de águas: A SEMIOLOGIA. A essa altura, com o conhecimento embasado através de corpos inanimados, passamos a examinar, percutindo, palpando e auscultando corpos dotados de vontades, manias, opiniões e caráter que compõem os PACIENTES. Fomos munidos de instrumentos como o estetoscópios, lanterna, martelinho que nos auxiliariam nessa viagem pelas patologias do corpo e da mente de homens, mulheres, idosos, crianças e gestantes, tratando-os com respeito e cordialidade, adentrando na intimidade de seus pensamentos na busca da causa da dor e do sofrimento.
Foi nessa viagem, que jamais terá fim, que aprendemos com exemplos e experiências da existência de profissionais que não honram a sua carreira, que desrespeitam a figura humana e trocam o precioso pelo vil com a naturalidade e frieza de um ser formolizado, usando da prerrogativa hierárquica para denegrir a imagem da coisa pública e manchando as vestes da moral. Como já havia escrito o Rei Salomão: “Grave mal vi debaixo do sol: as riquezas que seus donos guardam para o próprio dano”. Esses exemplos infelizmente não serão esquecidos.
Dessa forma, carregados de vivências adquiridas na faculdade, pudemos chegar ao internato. São os dois anos mais intensos para um estudante de medicina. Fomos experimentados como profissionais, passamos a viver as experiências da vida médica e observar que estávamos enganados com alguns conceitos pré-formados nos tenros semestres:
• Não devemos optar pela medicina em função do vil metal;
• Não salvaremos o mundo;
• As pessoas morrem, devemos respeitar o ciclo natural do processo de viver, buscando sempre o melhor para os pacientes e familiares;
• Poderemos não chegar a ser os melhores médicos do mundo, mas deveremos ser os melhores para os nossos pacientes.
No internato, louvamos residentes que conhecem a história do ser estudante e nos olharam com cordialidade e coleguismo, proporcionando conhecimento, amizade e alegrias dentro e fora das paredes dos hospital. Pudemos entender um pouco mais do ser paciente, dos seus medos, anseios, conceitos e histórias que nos forçam a buscar novas abordagens para alcançar o diagnóstico e a cura. Alguns desse pacientes não pudemos curar; choramos com aqueles afligidos pela sociedade, atormentados pelo passado, arrependidos por condutas erradas e vítimas do mal que ocorre até dentro dos lares e ferem crianças, mulheres e idosos.
Meus amigos, e do futuro, o que poderemos inferir?
Certamente não faltará brilhantismo nestes doutores que aqui estão. Entretanto, falar em futuro, para nós, seres humanos, se resume em sonhar e aspirar. Que haja em nossos dias as realizações de nossos desejos e que eles sejam de paz e não de mal. Que haja prosperidade sem ganância, não fazendo da nossa profissão um mero mercantilismo barato ou fraudulento e nem para que os nossos filhos sofram pela nossa ausência ou nossos cônjuges encontrem um “eu te amo” em outros lábios. Que haja saúde em nossos corpos, mentes e espíritos para darmos o melhor para o mundo. Que haja força, determinação e fé para não sucumbirmos aos entraves da vida que podem nos encontrar na rua, no seio familiar, na porta de uma emergência ou na sala de cirurgia. Que possamos compreender o que significa amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos.
Amados amigos, que não haja ansiedade em nossos corações, pois não temos a pré-ciência dos dias do porvir.
Então na perspectiva do tempo temos um passado representado por uma estrada cheia de altos e baixos, rica em momentos que nos engrandeceram tanto pela alegria quanto pela dor. Essa estrada, sem volta, nos trouxe à estação do hoje e aponta para um novo caminho chamado futuro.
Logo, o que temos de concreto são bagagens abarrotadas de experiências que, nesses seis anos, metabolizaram vestibulandos em médicos. Termos uma instituição renomada nacionalmente, imponente no estado do Ceará que sofre pelas barreiras da burocracia mas que permanece firme graças ao seu maior patrimônio: material humano. A Universidade Federal do Ceará nos deixará saudades. Foi lá que vivenciamos os seis anos mais decisivos de nossas vidas.
Nessa bagagem carregamos as lembranças de professores dedicados à missão do ensino e formação das gerações de profissionais médicos e de funcionários que transmitem garra e companheirismo para o bem do paciente.
Ainda temos os nossos amigos, alguns mais achegados do que irmãos, e os nossos amores, companheiros e companheiras de jornada que, entre beijos e afagos, nos encorajaram a prosseguir a despeito das circunstâncias.
Temos os nossos pais, a quem damos especial honra por terem nos criado, muitas vezes em dificuldade financeira, banhados em lágrimas, pelas dores da caminhada, e em suor. Agradecemos a vocês, nossos pais, que nos castigaram quando foi preciso, que formaram o nosso caráter, que choraram conosco, sofreram conosco, vibraram conosco e acreditaram no nosso potencial quando ninguém mais cria que poderíamos ter chegado até aqui. Essa vitória é de vocês.
Meus colegas, esta estação do hoje é um presente dados por Deus, para que esse dia seja o melhor de nossas vidas. Este PRESENTE deve ser agradecido à altura:
“Senhor, meu Deus e meu Pai, obrigado por até aqui ter nos ajudado. Esse seis anos não foram fáceis, mas o Senhor nunca nos abandonou. Obrigado pela vida de nossos pais, nós os amamos muito, abençoa-os como eles têm nos abençoado. Obrigado pelos nossos companheiros de turma, agora, colegas de profissão, seja com eles sempre em seus caminhos, sustenta-os em Teus braços, dando-os confiança e segurança, saúde e sabedoria para saberem que o Senhor está acima de tudo. Obrigado pelos nossos professores e mestres, continue dando inteligência para contribnuirem na formaação der excelentes profissionais. Recompensa-os segundo a Tua Graça. Meu Deus, abençoa também os funcuionários e todos aqueles que compõem a nossa faculdade. Senhor, por fim, obrigado por esse presente maravilhoso por sermos a 95ª Turma de Médicos formados pela Universidade Federal do Ceará”.
Amém!

MUITO OBRIGADO!
Escrito por Júlio Werner, inestimável colega médico

domingo, 18 de abril de 2010

Acordaaa

Um dia você acorda e sente que já não é mais o mesmo, que o cheiro da vida mudou, que as antigas motivações não lhe servem mais, como roupas antigas e apertadas, desbotadas pelo uso excessivo.

Um dia você acorda e percebe que a luz está diferente, que os sons da vizinhança não lhe dizem mais respeito, que o som do seu coração está cansado das mesmas batidas na terra, seu coração está pedindo é para voar .Percebe que antigos sonhos estão voltando, mas não têm lugar naquele pouco espaço que lhes foi destinado, como uma revoada de passarinhos a fazer um barulho incrível no seu peito, batendo asas e soltando penas.

Você acorda e se dá conta do que não fez, de onde não chegou, dos arranjos e das coisas e gentes que usou para seu gozo, e no entanto, não conseguiu ser íntegro consigo mesmo.

Um dia acorda e percebe: decepcionado, quis crer em tantas crenças e doutrinas, se esforçou para agradar a gregos e troianos, disse "sim" quando queria dizer "não", e deixou de falar "não" tantas vezes que já não sabia mais qual era o seu querer, quais eram os seus sabores preferidos e a direção que escolheu caminhar.

Da mesma forma, acorda e percebe que estava com saudade da sua música, seus livros, seus segredos e seu ócio. Acorda e olha para o teto, vê possibilidades acima do teto; sorri, simpatizando-se com a aranha tecendo teimosa a despeito das estocadas diárias da vassoura.Sem se render, ela recomeça toda noite, e agora você se dá conta que existe a coragem de recomeçar.

Um dia você acorda e lembra que riu, comeu e sentou a mesa com gente que de fato nunca se importou, e você oferecendo seu melhor sorriso em troca de aceitação. Que bobagem. Lembra que não protestou diante de absurdos, recolhendo-se à boa educação de sempre.Lembra que deu o relógio para a pessoa errada, e deixou de abraçar por puro preconceito, e que não tentou mais uma vez.

Um dia você acorda cansado de dizer que está cansado de viver, e decide que vai correr o risco de recapitular suas teologias e filosofias.

Um dia. Um dia você acorda.


Autora: Helena Beatriz Paccitti

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

AMORES IMPERFEITOS SÂO AS FLORES DA ESTAÇÃO






Cada pessoa é tão infinitamente bonita que surpreende os mais atenciosos, comove os sensíveis, e faz os poetas...cantarem.
Cada pessoa é tão única e infinitamente bonita que é triste a ignorância, o desespero, o egoísmo...não faz sentido assim, meu bem.
O jogo dos paradoxos, imperfeitos amores florindo num jardim efêmero e diversificado(a vida).
Cada pessoa é tão única, complexa, bonita...incompreendida e incompreensível.(Paradoxo?)
Triste fim daquilo que nem começou. Rumo a esperança!
Melhor seria ver com outros olhos...(quando você irá decidir o momento de se amar tanto quanto eu te amo?)
Cada pessoa é tão única, complexa e bonita que cada uma não pode viver sem a outra
Paradoxo? Não. Apenas amores imperfeitos.

Ass: AMR

domingo, 21 de fevereiro de 2010







Vá se danar!
Você dá nada a ninguém
Nem um olhar
Nunca falou tudo bem
Tem, mas não dá
Sorrir jamais lhe convém
Você é má
Mas há de ter um bem

Você dá nada a ninguém
Vá se danar!
Danada, não perde o trem
Sabe nadar
Mas nada sabe de alguém que sabe amar
Eu quero ser seu bem
Você é má

Você é maluca
Você é malina
Você é malandra
Só não é massa...
E você magoa
E você massacra
E você machuca
E você mata!

...

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

One Art
by Elizabeth Bishop

The art of losing isn't hard to master;
so many things seem filled with the intent
to be lost that their loss is no disaster.

Lose something every day. Accept the fluster
of lost door keys, the hour badly spent.
The art of losing isn't hard to master.

Then practice losing farther, losing faster:
places, and names, and where it was you meant
to travel. None of these will bring disaster.

I lost my mother's watch. And look! my last, or
next-to-last, of three loved houses went.
The art of losing isn't hard to master.

I lost two cities, lovely ones. And, vaster,
some realms I owned, two rivers, a continent.
I miss them, but it wasn't a disaster.


--Even losing you (the joking voice, a gesture
I love) I shan't have lied. It's evident
the art of losing's not too hard to master
though it may look like (Write it!) like disaster.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010



LADY GAGAAAA, LINDAAAA
...
Caught in a bad romance
Oh-oh-oh-oh-oooh!
Oh-oh-oh-oooh-oh-oh-oh!
Caught in a bad romance
Rah rah ah-ah-ah!
Want your bad romance

I want your ugly
I want your disease...

I want your drama
The touch of your hand
I want you leathe-studded kiss in the sand
I want your love

And I want your revenge
You and me could write a bad romance

Oh-oh-oh-oh-oooh!
Oh-oh-oh-oooh-oh-oh-oh!
Caught in a bad romance

(...)


You know that I want you
And you know that I need you
(‘Cause I’m a freak bitch, baby!)
I want it bad
Your bad romance

J'veux ton amour
Et je veux ton revenge
J'veux ton amour
I don't wanna be friends

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Amar é ter um pássaro pousado no dedo.
Quem tem um pássaro pousado no dedo sabe que,
a qualquer momento, ele pode voar”


quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Salve, salve, Zilda Arn

O terremoto do Haiti levou nossa querida Dra. Zilda Arns Neumann, fundadora da Pastoral da Criança, que, com muito fervor lutou pelos interesses e saúde das crianças, muitas vezes, usando de métodos alternativos e baratos para acabar com a desnutrição.

Médica pediatra e sanitarista, Arns, 75, fundou e coordenava a Pastoral da Criança no Brasil, órgão de ação social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Formada em Medicina pela UFPR aprofundou-se em saúde pública e pediatria e sanitarismo, visando a salvar crianças pobres da mortalidade infantil, da desnutrição e da violência em seu contexto familiar e comunitário. Compreendendo que a educação revelou-se a melhor forma de combater a maior parte das doenças de fácil prevenção e a marginalidade das crianças, para otimizar a sua ação, desenvolveu uma metodologia própria de multiplicação do conhecimento e da solidariedade entre as famílias mais pobres, baseando-se no milagre bíblico da multiplicação dos dois peixes e cinco pães que saciaram cinco mil pessoas, como narra o Evangelho de São João.

Zilda Arns Neumann estava em missão humanitária no Haiti, para motivar os líderes e voluntários da Pastoral da Criança que trabalham com crianças, gestantes e famílias e foi durante seu pronunciamento, que aconteceu o terremoto que abalou o Haiti, levando 14 brasileiros, sendo 13 militares e 1 civil, a Dra. Zilda Arns.

(...) Sabemos que a força propulsora da transformação social está na prática do maior de todos os mandamentos da Lei de Deus: o Amor, expressado na solidariedade fraterna, capaz de mover montanhas."Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos" significa trabalhar pela inclusão social, fruto da Justiça; significa não ter preconceitos, aplicar nossos melhores talentos em favor da vida plena, prioritariamente daqueles que mais necessitam. Somar esforços para alcançar os objetivos, servir com humildade e misericórdia, sem perder a própria identidade.

Cremos que esta transformação social exige um investimento máximo de esforços para o desenvolvimento integral das crianças. Este desenvolvimento começa quanto a criança se encontra ainda no ventre sagrado da sua mãe. As crianças, quando estão bem cuidadas, são sementes de paz e esperança. Não existe ser humano mais perfeito, mais justo, mais solidário e sem preconceitos que as crianças.

Como os pássaros, que cuidam de seus filhos ao fazer um ninho no alto das árvores e nas montanhas, longe de predadores, ameaças e perigos, e mais perto de Deus, devemos cuidar de nossos filhos como um bem sagrado, promover o respeito a seus direitos e protegê-los.” Zilda Arn

A Pastoral da Criança, assim como a pastoral da saúde, não se limita ás pessoas carentes, nem religiosos, mas ao povo em geral, independendo de religião, posição social ou qualquer outra limitação.

"Mas há a vida que é para ser intensamente vivida, há o amor.Que tem que ser vivido até a última gota.Sem nenhum medo. Não mata." Clarice Linspector

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Uhumm...pipocaaaa


A culinária me fascina. De vez em quando eu até me até atrevo a cozinhar. Mas o fato é que sou mais competente com as palavras do que com as panelas.

Por isso tenho mais escrito sobre comidas que cozinhado. Dedico-me a algo que poderia ter o nome de "culinária literária". Já escrevi sobre as mais variadas entidades do mundo da cozinha: cebolas, ora-pro-nobis, picadinho de carne com tomate feijão e arroz, bacalhoada, suflês, sopas, churrascos.

Cheguei mesmo a dedicar metade de um livro poético-filosófico a uma meditação sobre o filme A Festa de Babette que é uma celebração da comida como ritual de feitiçaria. Sabedor das minhas limitações e competências, nunca escrevi como chef. Escrevi como filósofo, poeta, psicanalista e teólogo — porque a culinária estimula todas essas funções do pensamento.

As comidas, para mim, são entidades oníricas.

Provocam a minha capacidade de sonhar. Nunca imaginei, entretanto, que chegaria um dia em que a pipoca iria me fazer sonhar. Pois foi precisamente isso que aconteceu.

A pipoca, milho mirrado, grãos redondos e duros, me pareceu uma simples molecagem, brincadeira deliciosa, sem dimensões metafísicas ou psicanalíticas. Entretanto, dias atrás, conversando com uma paciente, ela mencionou a pipoca. E algo inesperado na minha mente aconteceu. Minhas idéias começaram a estourar como pipoca. Percebi, então, a relação metafórica entre a pipoca e o ato de pensar. Um bom pensamento nasce como uma pipoca que estoura, de forma inesperada e imprevisível.

A pipoca se revelou a mim, então, como um extraordinário objeto poético. Poético porque, ao pensar nelas, as pipocas, meu pensamento se pôs a dar estouros e pulos como aqueles das pipocas dentro de uma panela. Lembrei-me do sentido religioso da pipoca. A pipoca tem sentido religioso? Pois tem.

Para os cristãos, religiosos são o pão e o vinho, que simbolizam o corpo e o sangue de Cristo, a mistura de vida e alegria (porque vida, só vida, sem alegria, não é vida...). Pão e vinho devem ser bebidos juntos. Vida e alegria devem existir juntas.

Lembrei-me, então, de lição que aprendi com a Mãe Stella, sábia poderosa do Candomblé baiano: que a pipoca é a comida sagrada do Candomblé...

A pipoca é um milho mirrado, subdesenvolvido.

Fosse eu agricultor ignorante, e se no meio dos meus milhos graúdos aparecessem aquelas espigas nanicas, eu ficaria bravo e trataria de me livrar delas. Pois o fato é que, sob o ponto de vista de tamanho, os milhos da pipoca não podem competir com os milhos normais. Não sei como isso aconteceu, mas o fato é que houve alguém que teve a idéia de debulhar as espigas e colocá-las numa panela sobre o fogo, esperando que assim os grãos amolecessem e pudessem ser comidos.

Havendo fracassado a experiência com água, tentou a gordura. O que aconteceu, ninguém jamais poderia ter imaginado.

Repentinamente os grãos começaram a estourar, saltavam da panela com uma enorme barulheira. Mas o extraordinário era o que acontecia com eles: os grãos duros quebra-dentes se transformavam em flores brancas e macias que até as crianças podiam comer. O estouro das pipocas se transformou, então, de uma simples operação culinária, em uma festa, brincadeira, molecagem, para os risos de todos, especialmente as crianças. É muito divertido ver o estouro das pipocas!

E o que é que isso tem a ver com o Candomblé? É que a transformação do milho duro em pipoca macia é símbolo da grande transformação porque devem passar os homens para que eles venham a ser o que devem ser. O milho da pipoca não é o que deve ser. Ele deve ser aquilo que acontece depois do estouro. O milho da pipoca somos nós: duros, quebra-dentes, impróprios para comer, pelo poder do fogo podemos, repentinamente, nos transformar em outra coisa — voltar a ser crianças! Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo.

Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca, para sempre.

Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e dureza assombrosa. Só que elas não percebem. Acham que o seu jeito de ser é o melhor jeito de ser.

Mas, de repente, vem o fogo. O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos. Dor. Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder um filho, ficar doente, perder um emprego, ficar pobre. Pode ser fogo de dentro. Pânico, medo, ansiedade, depressão — sofrimentos cujas causas ignoramos.Há sempre o recurso aos remédios. Apagar o fogo. Sem fogo o sofrimento diminui. E com isso a possibilidade da grande transformação.

Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro ficando cada vez mais quente, pense que sua hora chegou: vai morrer. De dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar destino diferente. Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada. A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo, a grande transformação acontece: PUF!! — e ela aparece como outra coisa, completamente diferente, que ela mesma nunca havia sonhado. É a lagarta rastejante e feia que surge do casulo como borboleta voante.

Na simbologia cristã o milagre do milho de pipoca está representado pela morte e ressurreição de Cristo: a ressurreição é o estouro do milho de pipoca. É preciso deixar de ser de um jeito para ser de outro.

"Morre e transforma-te!" — dizia Goethe.

Em Minas, todo mundo sabe o que é piruá. Falando sobre os piruás com os paulistas, descobri que eles ignoram o que seja. Alguns, inclusive, acharam que era gozação minha, que piruá é palavra inexistente. Cheguei a ser forçado a me valer do Aurélio para confirmar o meu conhecimento da língua. Piruá é o milho de pipoca que se recusa a estourar.

Meu amigo William, extraordinário professor pesquisador da Unicamp, especializou-se em milhos, e desvendou cientificamente o assombro do estouro da pipoca. Com certeza ele tem uma explicação científica para os piruás. Mas, no mundo da poesia, as explicações científicas não valem.

Por exemplo: em Minas "piruá" é o nome que se dá às mulheres que não conseguiram casar. Minha prima, passada dos quarenta, lamentava: "Fiquei piruá!" Mas acho que o poder metafórico dos piruás é maior.

Piruás são aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem.

Ignoram o dito de Jesus: "Quem preservar a sua vida perdê-la-á".A sua presunção e o seu medo são a dura casca do milho que não estoura. O destino delas é triste. Vão ficar duras a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca macia. Não vão dar alegria para ninguém. Terminado o estouro alegre da pipoca, no fundo a panela ficam os piruás que não servem para nada. Seu destino é o lixo.

Quanto às pipocas que estouraram, são adultos que voltaram a ser crianças e que sabem que a vida é uma grande brincadeira...

Rubem Alves

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Meditar? O que é isso?

A palavra meditação e a palavra medicina vêm da mesma raiz. Medicina significa aquilo que cura o físico e meditação, aquilo que cura o espiritual. Ambas são poderes curadores.


Outra coisa para ser lembrada: as palavras inglesas "healing" (cura) e "whole" (completo) também vêm da mesma raiz. Ser curado significa simplesmente ser completo, não faltando nada. Outra conotação: a palavra "holy" (sagrado) também vem da mesma raiz. Healing, whole, holy, não são diferentes em suas raízes.


A meditação cura, faz você completo, e ser completo é ser sagrado.


Santidade não tem nada a ver com pertencer a uma religião, pertencer a uma Igreja. Significa simplesmente que, dentro de você, você é inteiro, completo; nada está faltando, você está preenchido. Você é aquilo que a existência quer que você seja. Você realizou seu potencial...


Religião é uma jornada para dentro, e a meditação é o caminho. O que a meditação realmente faz é levar você, a sua consciência, tão profundamente quanto possível. Até mesmo seu próprio corpo torna-se algo exterior. Até mesmo seu próprio coração - que está muito perto do centro do seu ser - torna-se algo exterior. Quando o seu corpo, mente, coração, todos os três, são vistos como exteriores, você chegou ao verdadeiro centro de sua existência.


Esta chegada ao centro é uma tremenda explosão que transforma tudo. Você nunca será o mesmo homem novamente, porque agora você sabe que o seu corpo é somente a sua concha externa; a mente é um pouco mais interna, mas não realmente seu núcleo interior; o coração é ainda um pouco mais interno, mas ainda não é o centro mais interior. Você está desidentificado de todos os três.


Você começa a sentir-se, pela primeira vez, cristalizado... não aquela velha pessoa insípida que você sempre foi. Pela primeira vez você começa a sentir uma tremenda energia, uma energia inexaurível de que você não tinha consciência. Pela primeira vez você sabe que a morte acontecerá somente ao corpo, à mente, ao coração, mas não a você.


Você é eterno. Você sempre esteve aqui e você sempre estará aqui - de diferentes formas, e finalmente em um estado sem forma. Mas você não pode ser destruído - você é indestrutível. Isto retira todo o medo de você. E o desaparecimento do medo é o aparecimento da liberdade. O desaparecimento do medo é o aparecimento do amor. Agora você pode compartilhar. Você pode dar tanto quanto você queira, porque você está na fonte inexaurível das águas da vida...


A meditação torna você completo, torna você sagrado, e torna você uma fonte inexaurível para todos aqueles que estão famintos, sedentos, buscando, procurando, apalpando no escuro. Você se torna uma luz... A meditação é o caminho para a mestria do seu próprio ser. Nenhum Deus é necessário, nenhum catecismo é necessário, nenhum livro sagrado é necessário. Ninguém precisa se tornar um cristão ou um judeu ou um hindu - tudo isto é puro absurdo. Tudo o que é preciso é encontrar o seu centro, e a meditação é o caminho mais simples para achá-lo.


Ela irá torná-lo inteiro, saudável espiritualmente, e ela irá torná-lo tão rico que você pode destruir toda a pobreza espiritual do mundo. E esta é a real pobreza.


A pobreza dos corpos físicos com relação à comida, às roupas, aos abrigos, pode ser facilmente auxiliada pela ciência e tecnologia. Mas a ciência e a tecnologia não podem ajudar a dar-lhe bem-aventurança - isto está além de seu alcance. E você pode ter tudo o que o mundo oferece, mas se você não tem paz, serenidade, silêncio, êxtase, você ainda permanecerá pobre.


De fato, você sentirá a sua pobreza mais do que nunca, porque o contraste estará lá. Você está vivendo em um palácio de ouro e você sabe que é um mendigo. O palácio de ouro se tornará um contraste: agora você pode ver que dentro não existe nada, você está apenas vazio.


É por isso que, à medida que a humanidade se torna mais inteligente, mais madura, mais e mais pessoas começam a se sentir sem sentido, mais e mais pessoas começam a sentir que a vida é acidental, que é uma futilidade continuar vivendo.


Todos os últimos desenvolvimentos da filosofia no Ocidente indicam uma coisa, que talvez o suicídio seja a única solução. E naturalmente, se você não conhece o seu mundo interior, e você tem disponível tudo que o mundo exterior pode lhe dar, o suicídio parecerá ser a única solução.


A meditação pode torná-lo internamente rico. Então o suicídio está fora de questão; mesmo que você queira destruir a si mesmo, não existe jeito. Seu ser é indestrutível. E conhecer esta imortalidade é uma grande liberdade - da morte, das doenças, da velhice. Todas essas coisas podem ir e vir, mas você permanecerá intocado, não marcado. Sua saúde interior está além de qualquer doença.


E está aí, apenas para ser descoberta.


A ciência médica, a psicologia, a filosofia são muito imaturas no sentido de que elas estão somente fazendo o seu trabalho na superfície dos seres humanos - elas não encontram um caminho para o centro do homem. E porque elas não aceitam a existência de alguma consciência além da mente, de alguma consciência além da morte, elas estão completamente fechadas, cheias de preconceito contra todos os tremendos esforços que os místicos fizeram para encontrar o centro da consciência.


Muitas vezes o diagnóstico de um fisiologista ou de um médico pode estar absolutamente errado pela simples razão de que sua percepção não é suficientemente abrangente. Ele entende o homem somente como matéria: e a mente somente como um subproduto da matéria, uma sombra sem nada além dela, nada de eterno, nada que permanecerá para sempre. Eles inventaram uma imagem dos seres humanos que cria desespero nas pessoas inteligentes. E por causa desta rejeição a priori, sua abordagem não é científica: é supersticiosa como qualquer outra pessoa com fanatismo religioso ou político.


A ciência não tem o direito de negar a consciência a não ser que ela explore o céu interior da pessoa humana e descubra se a consciência é feita ou não com a substância dos sonhos, se é uma realidade ou apenas uma sombra.


Eles não exploram - eles somente imaginam. O materialismo é a suposição, a superstição do mundo da ciência, assim como Deus, paraíso e inferno são as superstições do mundo religioso.


A ciência ainda não é pura ciência e ela não pode ser, porque o cientista ainda não é inocente, imparcial, pronto para seguir a verdade apesar de si mesmo e de seu conhecimento.

Extraído da obra Osho - O Livro da Cura - Da Meditação para a Meditação

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

De repente, no meio da multidão, senti sua mão fria tocar a minha

Dizem que você não é bom pra mim...mas nem eu sou boa pra mim...