sexta-feira, 2 de julho de 2010

Boa noite,
É com grande honra que me foi incumbida a tarefa de representar esta turma nesta noite de formatura. Assim, iniciarei este discurso agradecendo aos meus amigos, e agora, colegas de profissão, esse privilégio e imensa responsabilidade.
Depois de seis anos de faculdade, devo eu refletir sobre esse momento na perspectiva do tempo, dissecando parte de nossa história do passado ao futuro, do estudante ao, agora, médico.
Do passado, tenho claras lembranças das longas filas, do “friozinho na barriga” e da ansiedade do vestibular. Depois das fórmulas matemáticas e fatos históricos, dos tremores de extremidades e dos calafrios da expectativa, pudemos, enfim, dar brados de vitória pela tão aguardada vida acadêmica. Os vestibulandos passaram a ser acadêmicos de medicina.
No Campus do Porangabussu, iniciamos a nossa jornada com o primeiro enfrentamento: CORPOS FORMOLIZADOS. Olhando para aqueles seres inanimados, passamos a compreender que o importante na vida não bens materiais, ou sucesso, ou fama, pois, como escreveu Edgardo Rodolfo Sosa “O essencial é invisível aos olhos”. E que, quando se dá o último sopro de vida, nos resta um conjunto de células, que formam divinamente, órgãos e sistemas tão diferentes quanto harmônicos. Contudo, vão embora os sonhos, os desejos e o futuro.
Assim como respeitamos aqueles cadáveres sem identidade revelada, dissecando-os para suturar as colchas do conhecimento médico, respeitaremos as “Marias e os Joãos” que nos serão confiados. Após dissecarmos as páginas dos livros de Anatomia, Histologia, Patologia e Farmacologia, progredimos para o primeiro divisor de águas: A SEMIOLOGIA. A essa altura, com o conhecimento embasado através de corpos inanimados, passamos a examinar, percutindo, palpando e auscultando corpos dotados de vontades, manias, opiniões e caráter que compõem os PACIENTES. Fomos munidos de instrumentos como o estetoscópios, lanterna, martelinho que nos auxiliariam nessa viagem pelas patologias do corpo e da mente de homens, mulheres, idosos, crianças e gestantes, tratando-os com respeito e cordialidade, adentrando na intimidade de seus pensamentos na busca da causa da dor e do sofrimento.
Foi nessa viagem, que jamais terá fim, que aprendemos com exemplos e experiências da existência de profissionais que não honram a sua carreira, que desrespeitam a figura humana e trocam o precioso pelo vil com a naturalidade e frieza de um ser formolizado, usando da prerrogativa hierárquica para denegrir a imagem da coisa pública e manchando as vestes da moral. Como já havia escrito o Rei Salomão: “Grave mal vi debaixo do sol: as riquezas que seus donos guardam para o próprio dano”. Esses exemplos infelizmente não serão esquecidos.
Dessa forma, carregados de vivências adquiridas na faculdade, pudemos chegar ao internato. São os dois anos mais intensos para um estudante de medicina. Fomos experimentados como profissionais, passamos a viver as experiências da vida médica e observar que estávamos enganados com alguns conceitos pré-formados nos tenros semestres:
• Não devemos optar pela medicina em função do vil metal;
• Não salvaremos o mundo;
• As pessoas morrem, devemos respeitar o ciclo natural do processo de viver, buscando sempre o melhor para os pacientes e familiares;
• Poderemos não chegar a ser os melhores médicos do mundo, mas deveremos ser os melhores para os nossos pacientes.
No internato, louvamos residentes que conhecem a história do ser estudante e nos olharam com cordialidade e coleguismo, proporcionando conhecimento, amizade e alegrias dentro e fora das paredes dos hospital. Pudemos entender um pouco mais do ser paciente, dos seus medos, anseios, conceitos e histórias que nos forçam a buscar novas abordagens para alcançar o diagnóstico e a cura. Alguns desse pacientes não pudemos curar; choramos com aqueles afligidos pela sociedade, atormentados pelo passado, arrependidos por condutas erradas e vítimas do mal que ocorre até dentro dos lares e ferem crianças, mulheres e idosos.
Meus amigos, e do futuro, o que poderemos inferir?
Certamente não faltará brilhantismo nestes doutores que aqui estão. Entretanto, falar em futuro, para nós, seres humanos, se resume em sonhar e aspirar. Que haja em nossos dias as realizações de nossos desejos e que eles sejam de paz e não de mal. Que haja prosperidade sem ganância, não fazendo da nossa profissão um mero mercantilismo barato ou fraudulento e nem para que os nossos filhos sofram pela nossa ausência ou nossos cônjuges encontrem um “eu te amo” em outros lábios. Que haja saúde em nossos corpos, mentes e espíritos para darmos o melhor para o mundo. Que haja força, determinação e fé para não sucumbirmos aos entraves da vida que podem nos encontrar na rua, no seio familiar, na porta de uma emergência ou na sala de cirurgia. Que possamos compreender o que significa amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos.
Amados amigos, que não haja ansiedade em nossos corações, pois não temos a pré-ciência dos dias do porvir.
Então na perspectiva do tempo temos um passado representado por uma estrada cheia de altos e baixos, rica em momentos que nos engrandeceram tanto pela alegria quanto pela dor. Essa estrada, sem volta, nos trouxe à estação do hoje e aponta para um novo caminho chamado futuro.
Logo, o que temos de concreto são bagagens abarrotadas de experiências que, nesses seis anos, metabolizaram vestibulandos em médicos. Termos uma instituição renomada nacionalmente, imponente no estado do Ceará que sofre pelas barreiras da burocracia mas que permanece firme graças ao seu maior patrimônio: material humano. A Universidade Federal do Ceará nos deixará saudades. Foi lá que vivenciamos os seis anos mais decisivos de nossas vidas.
Nessa bagagem carregamos as lembranças de professores dedicados à missão do ensino e formação das gerações de profissionais médicos e de funcionários que transmitem garra e companheirismo para o bem do paciente.
Ainda temos os nossos amigos, alguns mais achegados do que irmãos, e os nossos amores, companheiros e companheiras de jornada que, entre beijos e afagos, nos encorajaram a prosseguir a despeito das circunstâncias.
Temos os nossos pais, a quem damos especial honra por terem nos criado, muitas vezes em dificuldade financeira, banhados em lágrimas, pelas dores da caminhada, e em suor. Agradecemos a vocês, nossos pais, que nos castigaram quando foi preciso, que formaram o nosso caráter, que choraram conosco, sofreram conosco, vibraram conosco e acreditaram no nosso potencial quando ninguém mais cria que poderíamos ter chegado até aqui. Essa vitória é de vocês.
Meus colegas, esta estação do hoje é um presente dados por Deus, para que esse dia seja o melhor de nossas vidas. Este PRESENTE deve ser agradecido à altura:
“Senhor, meu Deus e meu Pai, obrigado por até aqui ter nos ajudado. Esse seis anos não foram fáceis, mas o Senhor nunca nos abandonou. Obrigado pela vida de nossos pais, nós os amamos muito, abençoa-os como eles têm nos abençoado. Obrigado pelos nossos companheiros de turma, agora, colegas de profissão, seja com eles sempre em seus caminhos, sustenta-os em Teus braços, dando-os confiança e segurança, saúde e sabedoria para saberem que o Senhor está acima de tudo. Obrigado pelos nossos professores e mestres, continue dando inteligência para contribnuirem na formaação der excelentes profissionais. Recompensa-os segundo a Tua Graça. Meu Deus, abençoa também os funcuionários e todos aqueles que compõem a nossa faculdade. Senhor, por fim, obrigado por esse presente maravilhoso por sermos a 95ª Turma de Médicos formados pela Universidade Federal do Ceará”.
Amém!

MUITO OBRIGADO!
Escrito por Júlio Werner, inestimável colega médico

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